Por:Fabiana Menezes de Miranda
Profa. do curso de Fisioterapia da FESV-ES
A fisioterapia tem surgido com um novo papel, integrando programas de promoção e prevenção na saúde da mulher. Esses novos modelos de assistência têm-se mostrado eficazes para tratamento de incontinência urinária, principalmente para mulheres climatéricas e gestantes no último trimestre gestação.
O estágio de fisioterapia voltado para a saúde da mulher, realizado semestralmente pela Faculdade Estácio de Sá de Vitória-ES têm obtido resultados, consideravelmente importantes, para essa disfunção, tanto na recuperação como na prevenção, além de obter relatos de melhora nas disfunções sexuais dolorosas femininas, assim como nas disfunções orgásmicas.
Palavra chave: Incontinência, Fisioterapia, Estágio curricular
Introdução
A incontinência urinária é, hoje, um problema de saúde pública que afeta principalmente mulheres climatéricas, como mostra Guarisi et al, onde demonstraram que 35% apresentavam incontinência urinária por esforço. Essa prevalência torna-se ainda maior quando comparada com sexo masculino (3:1) (Polden, 2005).
Apesar do alto índice, poucas são as mulheres que procuram algum tipo de tratamento, devido à vergonha de procurar atendimento, falta de conhecimento e esclarecimento do problema e até mesmo despreparo de alguns profissionais da saúde.
Incontinência urinária é definida, segundo a sociedade internacional de continência como “uma condição em que a perda involuntária de urina é um problema social, higiênico e objetivamente demonstrável”. É uma condição multifatorial que afeta diferentes faixas etárias e que ainda é considerada por muitos, erroneamente, como uma condição normal do envelhecimento. Essa condição constrangedora pode levar a frustrações, afastamento de convívio social, quadros depressivos e até mesmo, ser precursor de doenças oportunistas.
Durante muitos anos a cirurgia era considerada a melhor opção de tratamento, mas as recidivas eram freqüentes após alguns meses ou até anos, submetendo as pacientes a novas cirurgias, e muitas vezes, com piora do prognóstico.
Atualmente, a fisioterapia em combinação com tratamento médico, visa melhorar o quadro clínico deste comprometimento ou, ao menos, melhorar as condições higiênicas, psicológicas, além de envolver os familiares nos cuidados e esclarecimentos sobre todo o mecanismo fisiológico do problema e sobre todos os recursos disponíveis para solucioná-los.
A fisioterapia voltada para incontinência urinária acontece em Unidades de Saúde da Grande Vitória e Centro de Convivência do bairro Jardim Camburi no município de Vitória-ES, durante o estágio supervisionado curricular da Faculdade Estácio de Sá, onde é feita avaliação e tratamento específico. Além disso, os alunos esclarecem dúvidas através de seminários e cartilhas elaboradas por eles. O interessante é que, muitas vezes, os alunos detectam incontinências leves, que algumas mulheres não tinham consciência da existência.
Continência
A continência urinária é mantida quando existe uma boa sustentação do trato urinário, função esfincteriana normal dos músculos, disposição anatômica normal dos órgãos, pressão intra-uretral maior que a intravesical, inervação da musculatura lisa íntegra e normalidade do músculo detrusor.
Incontinência
Geralmente são divididas em cinco tipos, dentre elas serão definidas as duas principais:
-IU premente ou de urgência – perda involuntária da urina acompanhada de um desejo forte de micção.
-IU por esforço – perda urinária involuntária aos esforços tais como: tossir, espirrar, saltar, correr, etc. É considerada a mais comum das incontinências e a mais fácil de tratar.
É importante ressaltar que existe um tipo de incontinência urinária temporária que pode ser causada por uma infecção urinária, e que pode ser resolvida após o tratamento medicamentoso desta infecção.
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Climatério
É um período em que os hormônios produzidos pelos ovários vão progressivamente deixando de ser fabricados. A diminuição desses faz com que os ciclos menstruais tornem-se irregulares, até acabarem completamente. Nesta fase de transição ocorrem alterações físicas e psíquicas importantes, que comprometem a qualidade de vida da mulher.
As alterações hormonais do climatério provocam diminuição de fibras de colágeno e hipotrofia muscular de apoio do trato genital, perda de elasticidade, entre outros, predispondo a um possível quadro de incontinência.
Gestantes
O peso do feto, principalmente no último trimestre, provoca compressão dos órgãos pélvicos. Além disso, as mudanças anatômicas temporárias e o esforço do parto podem ser causadores em potencial de incontinência urinária em mulheres que não realizam um programa de exercícios preventivos.
Tratamento Fisioterapêutico
O tratamento fisioterapêutico ocorre todo semestre com turmas do 70 período de fisioterapia, em mulheres com idade igual ou superior a 45 anos e gestantes nos três trimestres de gestação, através de estágio supervisionado.
Primeiramente é realizada uma avaliação sucinta, individual e específica em cada mulher, para a preparação de um protocolo de tratamento e evolução do quadro.
O trabalho é feito em grupos, onde os alunos iniciam por palestras educativas, previamente sugeridas pelas mulheres envolvidas e, é fornecida uma cartilha resumida sobre o assunto abordado em cada palestra. Logo após ensinam exercícios específicos, principalmente os de assoalho pélvico.
Ao final do atendimento elas são orientadas a realizar algumas atividades em casa, diariamente.
O estágio tem carga horária de 125h com uma freqüência de duas vezes por semana.
Palestras
As palestras são realizadas antes dos atendimentos, através recursos como: data-show, vídeos, pôsteres, cartilhas entre outros.
Os temas são sugeridos pelas próprias mulheres do grupo, onde podemos citar: câncer de mama, climatério, papel dos hormônios femininos, desenvolvimento do feto, benefícios dos exercícios na gestação, amamentação e higiene do bebê, desenvolvimento do feto, posições para relação sexual na gestação, incontinência urinária, exercícios para melhora das disfunções sexuais na melhor idade, métodos anticoncepcionais, planejamento familiar etc.
Exercícios
-Terapia comportamental ou reeducação da bexiga – consiste na micção em tempos para treinar a bexiga, tendo como objetivo separar a necessidade de urinar do ato de urinar.
-Percepção de assoalho pélvico – Consiste em treinar a propriocepção dos músculos do assoalho pélvico, identificando cada grupo por ação realizada. Diferencia as contrações dos músculos responsáveis pelo fechamento da uretra, dos músculos vaginais e anais.
-Trabalho muscular do assoalho pélvico – São realizados trabalho de fortalecimento e resistência dos músculos, de acordo com a necessidade. São realizados exercícios de Kegel, que são específicos para correta contração muscular. O fisioterapeuta deve condicionar o paciente a não utilizar, de forma compensatória, outros músculos, como: abdominais, adutores do quadril e glúteos.
Os exercícios são realizados com mudanças de decúbito de forma progressiva e são utilizados materiais, como: bolas de Bobath de tamanhos diferentes, colchonetes, halteres etc.
Considerações finais
Apesar da incontinência urinária, hoje, receber atenção especial em todo o mundo, ainda ocorre dificuldade de aceitação do problema pela maioria das mulheres, que preferem, muitas vezes, o isolamento à procurar um tratamento. Acredita-se que este fato se dê, principalmente, pelo baixo nível educacional, pela falta de orientação e até mesmo, decepção de métodos realizados no passado, sem manutenção, para evitar recidivas.
Os programas de fisioterapia na saúde da mulher têm a possibilidade de serem difundidos e podem ser implementados em locais menos convencionais, como possibilidades menos onerosas na saúde da mulher, evitando, muitas vezes, procedimentos mais invasivos, caros, com tempo de recuperação muito maior e nem sempre tão eficazes.
É importante salientar que a resolutividade dar-se-á a partir do momento em que os profissionais da saúde envolvidos, passarem a trabalhar de forma interdisciplinar e não apenas multidisciplinar.
Devemos enfatizar que os exercícios devem ser realizados, também, de forma preventiva, devendo ser incorporados à vida diária da mulher independente da faixa etária, visto que as mesmas são as maiores vítimas desta disfunção.
Referências
1-MARQUES, Keila S. Frade; FREITAS, Patrícia A.C. de. A cinesioterapia como tratamento da incontinência urinária na unidade básica de saúde. Fisioterapia em movimento, Curitiba, v.18, p.63-67, 2005.
2-POLDEN, Margaret; MANTLE, Jill. Fisioterapia em obstetrícia e ginecologia. São Paulo: Santos, 2005.
3-SOUZA, Cláudia E.C. Incontinência Urinária. Saúde em movimento. 2003
4-ACIOLY, Marília C.A.C. Sampaio. A incontinência urinária no climatério: uma proposta de tratamento fisioterapêutico. disponível em
5-Freitas, F. et al. Rotinas em ginecologia. Porto Alegre:3ed, Artes médicas, 1997. 358p.
6-GUARIS, IT; NETO, AMP; OSIS, MJ; et al. Incontinência urinária entre mulheres climatéricas brasileiras: inquérito domiciliar. Ver Saúde Pública, v.35, p. 428-35, mai. 2001.
7-LEON, MIWH. A eficácia de um programa cinesioterapêutico para mulheres idosas com incontinência urinária. Fisioterapia Brasil, v.2, n.2, 107-15. 2001.
8-SACOMORI, Cínara; CARDOSO, Fernando Luis. O papel da fisioterapia no tratamento das disfunções sexuais. Nova Fisioterapia, Rio de Janeiro, n.61, 14-16, Mar/Abr. 2008.
Fonte:http://www.portaldafisioterapia.com/?pg=noticia&id=1219
Que legal, adorei esse trabalho, fantástico e inovador
ResponderExcluirParabéns